segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Psicologia e preconceito

A base de todo preconceito é um complexo psicológico inconsciente, também conhecido como recalque. Quando se rejeita uma característica manifesta ou subjetiva em alguém, esconde-se uma dificuldade em reconhecer uma inferioridade inconsciente, cuja representação, na Consciência, é a superioridade. Preconceitos religiosos, culturais, étnicos, de gênero ou qualquer outro não são raros nem é privilégio de qualquer grupo social, visto que existem e existiram em várias épocas da história da Humanidade. Basta que nos lembremos da discriminação aos judeus, da escravidão dos negros e, mais recentemente, aos chargistas do Charlie Hebdo, na França.
Reagir ao preconceito, afirmando uma identidade e reforçando uma característica que consolide um grupo exclusivo de pessoas, pode ser tão pernicioso quanto, pois polariza-se a questão em foco, criando uma outra casta em oposição a que se combate. Esta atitude contribui para a não valorização do caráter coletivo que define a pessoa humana, privilegiando uma particularidade que tão somente faz parte da diversidade de caracteres, cujo somatório constitui o que se conhece como sendo a natureza humana. O respeito à diversidade, enxergando suas próprias diferenças, sem projetá-las nem discriminando o outro parece ser a atitude mais genuinamente humana a ser adotada.
Quando se vê um povo que, ao migrar de sua pátria e, ao tentar se inserir em outra, é discriminado há de se perguntar onde está o sentimento humanitário bem como onde anda a percepção de que somos todos participantes de uma mesma família universal? Preconceito é falência da condição humana e perda da noção de pessoa, abrigando em si o complexo patológico de inferioridade. A estigmatização de qualquer pessoa denuncia o desconhecimento dos mecanismos de defesa que dificultam a autopercepção e contribuem para a alienação de si mesmo. A mente humana possui esta e outras dinâmicas, principalmente a de colocar o indivíduo frente a frente consigo mesmo.

Publicado no Jornal ATarde de 23.09.2015.

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